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quinta-feira, 2 de maio de 2013

Nacionalismo europeu- século XIX- arte- música


Nacionalismo europeu- século XIX- arte- música


A  canção "die Wacht am Rhein", composta em 1841 por Max Schneckenburger, convoca os alemães a lutarem e defenderem o Reno, no contexto de animosidades com a França, no período que antecede a unificação.
Com seu forte clamor patriótico, "die Wacht am Rhein" tornou-se um hino não-oficial do império alemão, ganhando popularidade especialmente durante a guerra Franco-Prussiana, de 1870-71, e a Primeira Grande Guerra.
Veja e ouça:
Segue a letra e a tradução para o inglês:
Max Schneckenburger, 1840

1. Es braust ein Ruf wie Donnerhall,
Wie Schwertgeklirr und Wogenprall:
Zum Rhein, zum Rhein, zum deutschen Rhein,
Wer will des Stromes Hüter sein?
|: Lieb' Vaterland, magst ruhig sein, :|
|: Fest steht und treu die Wacht am Rhein! :|

2. Durch hunderttausend zuckt es schnell,
Und aller Augen blitzen hell;
Der deutsche Jüngling, fromm und stark,
Beschirmt die heil'ge Landesmark.
|: Lieb' Vaterland, magst ruhig sein, :|
|: Fest steht und treu die Wacht am Rhein! :|

3. Er blickt hinauf in Himmels Au'n,
Wo Heldengeister niederschau'n,
Und schwört mit stolzer Kampfeslust:
Du Rhein bleibst deutsch, wie meine Brust!
|: Lieb' Vaterland, magst ruhig sein, :|
|: Fest steht und treu die Wacht am Rhein! :|

4. So lang ein Tropfen Blut noch glüht,
Noch eine Faust den Degen zieht,
Und noch ein Arm die Büchse spannt,
Betritt kein Feind hier deinen Strand!
|: Lieb' Vaterland, magst ruhig sein, :|
|: Fest steht und treu die Wacht am Rhein! :|

5. Und ob mein Herz im Tode bricht,
Wirst du doch drum ein Welscher nicht,
Reich, wie an Wasser deine Flut,
Ist Deutschland ja an Heldenblut!
|: Lieb' Vaterland, magst ruhig sein, :|
|: Fest steht und treu die Wacht am Rhein! :|

6. Der Schwur erschallt, die Woge rinnt,
Die Fahnen flattern hoch im Wind:
Zum Rhein, zum Rhein, zum deutschen Rhein,
Wir alle wollen Hüter sein!
|: Lieb' Vaterland, magst ruhig sein, :|
|: Fest steht und treu die Wacht am Rhein! :|

7. So führe uns, du bist bewährt;
In Gottvertrau'n greif' zu dem Schwert,
Hoch Wilhelm! Nieder mit der Brut!
Und tilg' die Schmach mit Feindesblut!
|: Lieb' Vaterland, magst ruhig sein, :|
  |: Fest steht und treu die Wacht am Rhein! :|

Tr. Frank 1998
1. The cry resounds like thunder's crash,
Like ringing swords and waves that clash:
The Rhine, the Rhine, go to our Rhine,
Who'll guard our River, hold the line?
|: Land of our fathers, have no fear, :|
|: Your watch is true, the line stands here. :|

2. A hundred thousand hearts beat fast,
The eyes of all to you are cast,
The German youth, devout and strong.
Protects you, as he has so long.
|: Land of our fathers, have no fear, :|
|: Your watch is true, the line stands here. :|

3. He casts his eyes to heaven's blue,
From where past heroes hold the view,
And swears pugnaciously the oath,
You Rhine and I, stay German, both.
|: Land of our fathers, have no fear, :|
|: Your watch is true, the line stands here. :|

4. While still remains one breath of life,
While still one fist can draw a knife,
One gun still fired with one hand,
No foe will stand on this Rhine sand.
|: Land of our fathers, have no fear, :|
|: Your watch is true, the line stands here. :|

5. Should my heart not survive this stand,
You'll never fall in foreign hand,
Much, as your waters without end,
Have we our heroes' blood to spend.
|: Land of our fathers, have no fear, :|
|: Your watch is true, the line stands here. :|

6. The oath resounds, on rolls the wave,
The banners fly in wind. We'll save
The Rhine, the Rhine, the German Rhine
Together we will hold the line.
|: Land of our fathers, have no fear, :|
|: Your watch is true, the line stands here. :|

7. So lead us with your tried command,
With trust in God, take sword in hand,
Hail Wilhelm! Down with all that brood!
Repay our shame with the foes blood!
|: Land of our fathers, have no fear, :|
|: Your watch is true, the line stands here. :|


A canção "Va, pensiero", extraída da ópera "Nabucco" de Giuseppe Verdi, foi composta em 1842. Conta o lamento dos judeus exilados após a destruição do primeiro templo de Salomão. O tema da pátria perdida no contexto do nacionalismo italiano fez com que a canção se tornasse muito popular. 

Veja e ouça ( com legenda em português):
                                                                                                 Organizado por João Pedro Argondizo Correia- 2/5/2013.

terça-feira, 2 de abril de 2013

DOPS- Ditadura Militar- arquivos disponíveis online


DOPS (Departamento de Ordem Política e Social)


O termo “DOPS” significa Departamento de Ordem Política e Social, criada para manter o controle do cidadão e vigiar as manifestações políticas na ditadura pós-64 instaurada pelos militares no Brasil. O DOPS perseguia, acima de tudo, as atividades intelectuais, sociais, políticas e partidárias de cunho comunista.

Entre os anos de 1964 e 1974, em virtude da resistência ao regime militar crescente, a DOPS obteve maior autonomia. A partir do momento em que o Brasil se abriu para o processo de redemocratização, a instituição perdeu atividades e sentido pela sua existência.

DOPS exercia função de órgão policial, e deixou documentos como ofícios, relatórios, radiogramas e livros que hoje servem como pesquisa histórica e busca de processos judiciais. Há dossiês que discriminam sobre a existência, na época, de eleições sindicais, greves, partidos políticos, atos públicos e outros acontecimentos que eram registrados e vigiados pela DOPS.

As celas do antigo edifício do DOPS, em São Paulo, onde vários políticos ficaram detidos, foram torturados e mortos, foram transformadas em locações do Museu Imaginário do Povo Brasileiro. O prédio está reformado, o que é criticado por ex-presos políticos da época, pois a reforma apagou todos os traços de resistência e sobrevivência daquele tempo chumbo.


Extraído do Site Info Escola


Arquivos do Dops sobre a ditadura serão liberados na internet na segunda-feira

Órgão era uma das principais centrais da repressão militar e foi palco de torturas e mortes

29 de março de 2013 |  S. Paulo
SÃO PAULO - O Arquivo Público do Estado de São Paulo deixará disponível online, a partir da semana que vem, 274.105 fichas e 12.874 prontuários produzidos pelo Departamento de Ordem Política e Social, o Dops-SP (1923- 1983). O material, que equivale a cerca de 10% de todo o acervo, poderá ser acessado no sitewww.arquivoestado.sp.gov.br.
Antigo prédio do Dops em São Paulo - Arquivo/AE
Arquivo/AE
Antigo prédio do Dops em São Paulo
O Dops paulista foi uma das principais centrais da repressão da ditadura militar (1964-1985), de onde o governo controlava e reprimia movimentos políticos contrários ao regime. O local foi palco de torturas e mortes.
“É apenas o começo. Continuamos o trabalho de digitalização e, nos próximos anos, iremos disponibilizar todo o material”, afirma o coordenador Carlos Bacellar. A divulgação oficial acontecerá em evento na segunda-feira no Arquivo Público do Estado de São Paulo, com a presença do governador Geraldo Alckmin (PSDB), palestra e mesa-redonda com especialistas.
O material publicado online facilita o acesso do cidadão à documentação do Estado – das fichas publicadas, boa parte é nominal, ou seja, fichas pessoais –, e ao mesmo tempo abre uma fonte de pesquisa a estudiosos, jornalistas e público em geral. Até agora, era preciso ir pessoalmente ao Arquivo do Estado, no centro paulistano, para consultar esses documentos. Entre os milhares de fichados, há muitas personalidades.

A digitalização e publicação do acervo do Dops foi uma decisão administrativa do Arquivo do Estado dentro do espírito da Lei Federal nº 12.527 – a Lei de Acesso à Informação –, e do Decreto Estadual nº 58.052, que a regulamenta. Guardiã do acervo do Dops – acessível fisicamente desde 1994 –, a instituição acredita que a internet é uma ferramenta para democratizar as informações. “O pesquisador não precisa se preocupar com horários de funcionamento ou mesmo se deslocar”, comenta o coordenador. “Facilita muito o processo.”
A Lei de Acesso à Informação removeu alguns dos principais obstáculos à consulta livre do Fundo Deops pela Internet. Logo no início do seu capítulo IV, que trata das restrições do acesso, ela estabelece que “as informações ou documentos que versem sobre condutas que impliquem violação dos direitos humanos praticada por agentes públicos ou a mando de autoridades públicas não poderão ser objeto de restrição de acesso”.
http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,arquivos-do-dops-sobre-a-ditadura-serao-liberados-na-internet-na-segunda-feira,1014478,0.htm

Saara Ocidental




Saara Ocidental

Quer a República Árabe Saariana Democrática (RASD), quer Marrocos reivindicam soberania sobre o território do Saara Ocidental. A RASD, que declarou a sua independência em 1976, é atualmente reconhecida por 84 Estados-membros da ONU e é membro da União Africana. Muitos Estados, contudo, retiraram ou suspenderam o seu reconhecimento, esperando o resultado de um referendo sobre uma eventual auto-determinação, com 57 Estados mantendo laços diplomáticos.O Saara Ocidental não é reconhecido como parte de Marrocos por nenhum Estado, mas algumas apoiam o plano de autonomia marroquino. A "integridade territorial" marroquina é apoiada pelaLiga Árabe. A Resolução 24/37 do Conselho de Segurança das Nações Unidas reconhece o direito do povo do Saara Ocidental à auto-determinação e independência, reconhecendo também a Frente Polisário como o representante do povo do Saara Ocidental. O Saara Ocidental está atualmente na lista das Nações Unidas de territórios não autônomos.

Lutando há 36 anos pela independência do Marrocos,  povo saarauí  sofre com violações dos direitos humanos e falta de apoio internacional
Por Igor Carvalho 23/4/2012
 Representantes da Frente Polisário, movimento de independência que se contrapõe à ocupação marroquina, que mantém o Saara Ocidental como a última colônia da África, estão no Brasil. O motivo da visita é divulgar a situação enfrentada pelo povo saarauí e, em última instância, pedir que o governo brasileiro os reconheça como Estado.
Recentemente, a ONU enviou uma missão ao Saara Ocidental para monitorar questões de direitos humanos e as negociações para a paz na região e, em seu relatório final, a entidade reclamou que o Marrocos espionou seus trabalhos. Cálculos da Frente Polisário dão conta de que a ocupação do Saara Ocidental custa aos cofres marroquinos US$ 2 milhões por dia. O retorno desse investimento está no solo saarauí, já que a região é rica em fosfato e tem potencial para extração de petróleo e gás.
Em 1976, a Frente Polisário foi fundada e proclamou a independência da Rapública Árabe Saarauí Democrática. Desde então, estabeleceu-se um conflito com o Marrocos, que só foi interrompido em 1991, quando a ONU promoveu um cessar-fogo. Os dois lados se comprometeram a participar de um referendo, onde a população decidiria o futuro do Saara Ocidental. Apesar do acordo, até hoje, 21 anos depois, o referendo não foi realizado. Para Karim Lagdaf, dirigente da Frente Polisário, o plebiscito que pode decidir o futuro do território deve ser feita por seu povo. “O Marrocos quer submeter o referendo a toda a nação marroquina e do Saara Ocidental, nós queremos uma votação fechada, apenas saarauís poderiam votar.”
Reconhecimento internacional
O Saara Ocidental não é reconhecido como parte do Marrocos por nenhum Estado, porém, a Liga Árabe apoia a autoridade marroquina em território saarauí. Lagdaf não se incomoda com tal posição. “A Liga Árabe realmente nunca discutiu o assunto, em nenhuma reunião, lamento dizer que não estamos perdendo muito.” A vinda ao Brasil é uma tentativa de aproximação da Frente Polisário com o governo brasileiro. Hoje, somente Brasil, Argentina e Chile não reconhecem o Saara Ocidental como Estado soberano, na América do Sul, mas isso não preocupa o dirigente. “Nós somos otimistas quanto à relação com o Brasil, queremos esse apoio.”
Karim Lagdaf, assim como a maioria dos dirigentes da frente e 180 mil saarauís, mora em um acampamento para refugiados no sul da Argélia. As violações dos direitos humanos é a maior preocupação de organismos internacionais e militantes que atuam pela independência do Saara Ocidental. “Hoje, ocorrem 104 greves de fome, em protesto pelas violações aos direitos humanos. Temos 511 desaparecidos desde 1975”, alerta Lagdaf. A presença militar no território também incomoda quem circula pela região desértica. “Para cada saaraurí, existem três militares marroquinos.”
A República Árabe Saarauí Democrática, é dividia em duas partes. O lado ocidental é ocupado e o oriental, que é 30% do território, livre. O que divide as duas áreas é um muro de 2,6 mil quilômetros, “que é guardado por milhares de soldados marroquinos, além de radares com tecnologia israelita”, explica Lagdaf. Há forte repressão à manifestações relacionadas a valores nacionalistas. “Por exemplo, se uma criança, na escola, levantar uma bandeira do Saara ou exaltar o país, é expulsa.”
Apesar das negociações em curso, Karim Lagdaf alerta que os limites entre a paz e o conflito podem ser estreitos. “A juventude está formada, está disposta a sacrificar-se e têm um motivo: seu país está ocupado.” Essa mesma juventude tem se estruturado, inspirada na Primavera Árabe, na internet para se manifestar. “Hoje temos rádios e TVs pela internet, estou aqui (Brasil) e recebo diariamente informações e imagens do meu país.”
A comitiva segue, nesta segunda-feira, para o Uruguai, e no final da próxima semana estarão novamente no Brasil e tentarão audiências com representantes do governo brasileiro.

http://revistaforum.com.br/blog/2012/04/saara-ocidental-envia-comissao-para-que-o-brasil-o-reconheca-como-estado/



http://www.brasildefato.com.br/node/6377

domingo, 17 de março de 2013

A partilha da África- Imperialismo


 A  partilha da África


No fim do século 19, países europeus repartiram o continente africano entre si e o exploraram durante quase 100 anos. Os invasores se foram, mas deixaram os efeitos nefastos de sua presença
Ao encerrar a Conferência de Berlim, em 26 de fevereiro de 1885, o chanceler alemão Otto von Bismarck inaugurou um novo – e sangrento – capítulo da história das relações entre europeus e africanos. Menos de três décadas após o encontro, ingleses, franceses, alemães, belgas, italianos, espanhóis e portugueses já haviam conquistado e repartido entre si 90% da África – ou o correspondente a pouco mais de três vezes a área do Brasil. Essa apropriação provocou mudanças profundas não apenas no dia-a-dia, nos costumes, na língua e na religião dos vários grupos étnicos que viviam no continente. Também criou fronteiras que, ainda hoje, são responsáveis por tragédias militares e humanitárias.
O papel da conferência, que contou com a participação de 14 países, era delinear as regras da ocupação. “A conferência não ‘dividiu’ a África em blocos coloniais, mas admitiu princípios básicos para administrar as atividades européias no continente, como o comércio livre nas bacias dos rios Congo e Níger, a luta contra a escravidão e o reconhecimento da soberania somente para quem ocupasse efetivamente o território reclamado”, afirma Guy Vanthemsche, professor de História da Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica, e do Centro de Estudos Africanos de Bruxelas.
A rapidez com que a divisão se deu foi conseqüência direta da principal decisão do encontro, justamente o princípio da “efetividade”: para garantir a propriedade de qualquer território no continente, as potências européias tinham de ocupar de fato o quinhão almejado. Isso provocou uma corrida maluca em que cada um queria garantir um pedaço de bolo maior que o do outro. “Em pouco tempo, com exceção da Etiópia e da Libéria, todo o continente ficou sob o domínio europeu”, diz a historiadora Nwando Achebe, da Universidade Estadual do Michigan. A Libéria, formada por escravos libertos enviados de volta pelos Estados Unidos, havia se tornado independente em 1847. Na Etiópia, a independência foi garantida depois da Conferência de Berlim, com a vitória do exército do imperador Menelik II sobre tropas italianas na batalha de Adwa, em 1896.
O interesse europeu pela África vinha de muito tempo antes da conferência. No século 15, os portugueses já haviam chegado aos arquipélagos de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, iniciando sua ocupação do continente (que depois se estendeu a Angola e Moçambique). Os britânicos ocuparam partes da atual África do Sul, do Egito, do Sudão e da Somália no século 19. No mesmo período, os franceses se apoderaram de parte do Senegal e da Tunísia, enquanto os italianos marcavam presença na Eritréia desde 1870. Em 1902, França e Inglaterra já detinham mais de metade do continente.
Tiros e mentiras
A ocupação não se deu somente com a força das armas de fogo, que eram novidade para muitos dos povos subjugados. A trapaça foi largamente usada para a conquista e manutenção dos territórios. O rei Lobengula, do povo Ndebele, é um exemplo: assinou um contrato em que acreditava ceder terras ao magnata britânico Cecil Rhodes em troca de “proteção”. O problema é que o contrato firmado pelo rei não incluía a segunda parte do trato. O monarca nem percebeu, pois era analfabeto e não falava inglês. Apesar dos protestos de Lobengula, que acreditava que a palavra valia alguma coisa entre os recém-chegados, o governo da Inglaterra se fez de desentendido. Apoiou a exploração do território Ndebele, no atual Zimbábue, de onde Rhodes tirou toneladas de ouro.
O mais famoso entre os trapaceiros, no entanto, foi o rei Leopoldo II, que conseguiu passar a perna em africanos e europeus. Soberano de um pequeno país, a Bélgica, não tinha recursos nem homens para ocupar grandes territórios. Por isso, criou associações que se apresentavam como científicas e humanitárias, a fim de “proteger” territórios como a cobiçada foz do rio Congo. “Graças a hábeis manobras diplomáticas, ele conseguiu obter o reconhecimento, por todas as potências da época, de um ‘Estado Livre do Congo’, do qual ele seria o governante absoluto”, afirma o professor Vanthemsche. Leopoldo dominou com mão de ferro o Congo, usando métodos violentos para conseguir extrair o máximo que pudesse para aumentar sua riqueza pessoal.
Mas o principal método utilizado pelos europeus foi o bom e velho “dividir para dominar”. A idéia era se aproveitar da rivalidade entre dois grupos étnicos locais (ou criá-la, se fosse inexistente) e tomar partido de um deles. Com o apoio do escolhido, a quem davam armas e meios para subjugar os rivais, os europeus controlavam a população inteira. “Pode-se dizer que todas as potências conduziam a conquista da mesma forma: através da força bruta, dividindo para dominar e usando soldados que eram principalmente africanos e não europeus”, diz Paul Nugent, professor de História Africana Comparada e diretor do Centro de Estudos Africanos da Universidade de Edimburgo, na Escócia.
O método usado pelos colonizadores provocou tensões que até hoje perduram, pois transformou profundamente as estruturas sociais tradicionais da África. “Formações de grupos flexíveis e cambiantes foram mudadas para ‘estruturas étnicas’ bastante rígidas”, afirma Vanthemsche. O exemplo mais extremo dessa fronteira imaginária criada pelos europeus é o de tutsis e hutus, de Ruanda. Os tutsis foram considerados de “origem mais nobre” pelos colonizadores (primeiro alemães, depois belgas), e os hutus foram colocados em posição de inferioridade. Os tutsis mantiveram o poder mesmo após a saída dos belgas. Em 1994, 32 anos após a independência de Ruanda, cerca de 1 milhão de pessoas morreram no conflito em que os detentores do poder foram perseguidos pelos até então marginalizados hutus.
As fronteiras territoriais também foram delineadas sem respeitar a disposição da população local, com base nos interesses dos europeus. “Eles recorriam a noções arbitrárias como latitude, longitude, linha de divisão das águas e curso presumível de um rio que mal se conhecia”, afirma o historiador Henri Brunschwig em A Partilha da África Negra. E essas fronteiras ainda sobrevivem. Segundo o geógrafo francês Michel Foucher, cerca de 90% das atuais fronteiras na África foram herdadas do período colonial. Apenas em 15% delas foram levadas em consideração questões étnicas. Há ainda mais de uma dezena de fronteiras a serem definidas, segundo
Foucher.
O Saara Ocidental é o único caso de território africano que ainda não conseguiu a independência. Em 1975, depois de décadas explorando o fosfato da região, a Espanha o abandonou. No mesmo ano, o Marrocos invadiu o país. Houve resistência, e a guerra durou até 1991. Desde então, a Organização das Nações Unidas tenta organizar um referendo para que a população decida se quer a independência ou a anexação pelo Marrocos.
Para os países africanos, ver-se livre dos europeus não significou uma melhoria de sua situação. Ao contrário: em muitos lugares, a independência provocou guerras ainda mais sangrentas, que contaram com a participação das antigas metrópoles coloniais. Um exemplo é a Nigéria. Seis anos após a independência do país, em 1960, os ibos, que haviam adotado o cristianismo, declararam a secessão do território nigeriano de Biafra. Foram apoiados por franceses e portugueses, interessados nas ricas reservas de petróleo da região. Os hauçás e fulanis, muçulmanos que dominavam o cenário político do país, lutaram pela unidade apoiados pelos ingleses. O resultado foi uma guerra civil em que quase 1 milhão de nigerianos morreram, a grande maioria de fome – até hoje o país é palco de embates religiosos e políticos.
Na marra
Não se sabe exatamente quantos grupos étnicos havia na África quando os colonizadores chegaram, mas acredita-se que fossem por volta de mil. “O que sabemos sugere que as formações políticas e grupais eram muito mais fluidas e a variação lingüística era muito maior do que na era colonial”, diz o historiador Keith Shear, do Centro de Estudos Africanos Ocidentais da Universidade de Birmingham. Línguas foram adotadas em detrimento de outras, o que provocou o nascimento de elites. “A chegada de missionários e a introdução de escolas formais fizeram com que dialetos específicos fossem selecionados para traduzir a Bíblia. Estabeleceram-se ortografias oficiais, provocando homogeneidade lingüística”, afirma Shear. Os que falavam a língua do grupo majoritário tiveram mais facilidades num governo centralizado e dominado por uma só etnia.
Se por um lado alguns dialetos desapareceram, o mesmo não ocorreu com a diversidade étnica. “Grupos étnicos não foram eliminados durante o domínio colonial, apesar de os alemães terem tentado realizar o primeiro genocídio na Namíbia”, diz Paul Nugent. Teria sido possível, inclusive, o surgimento de outros povos. “Muitos historiadores defendem a tese de que novos grupos foram criados durante o período colonial, pois as pessoas começaram a se autodefinir de novas formas. Por exemplo: os ibos da Nigéria e os ewes de Gana e do Togo apenas passaram a se denominar desse modo durante o período entre as duas Grandes Guerras Mundiais”, afirma Nugent.
A colonização comprometeu duramente o desenvolvimento da África. Hoje o continente abriga boa parte dos países mais pobres do planeta. “No plano político, o legado do colonialismo inclui a tradição de administração de cima para baixo, a persistência de burocracias que fornecem poucos serviços e um baixo senso de identidade e interesse nacional. Os Estados são geralmente fracos, ineficientes e brutais”, diz Shear. “Economicamente, o colonialismo produziu, em sua maior parte, economias dependentes, monoculturistas e não integradas, que atendem prioridades externas e não internas.”
A situação atual dos países africanos pode ser atribuída à pressa que os colonizadores tiveram em transformar a realidade local. Isso fez com que o continente pulasse etapas importantes. “O maior problema é que, em apenas algumas décadas, as sociedades tradicionais africanas foram lançadas em uma situação totalmente desconhecida. Você não pode criar um sistema capitalista e Estados democráticos de um dia para outro, em poucas gerações. As próprias sociedades tradicionais européias precisaram de séculos para chegar a esse resultado”, diz Guy Vanthemsche. Essa chance nunca foi dada aos africanos.

Quase sem querer
As aventuras dos exploradores ajudaram na conquista dos povos africanos
Mesmo quando pretendiam apenas “salvar” algumas almas, os homens que desbravaram a África acabaram colaborando com os governos europeus na conquista e ocupação do continente. “Missionários e exploradores tiveram influências contraditórias. Trouxeram com eles importantes recursos, como armas de fogo e outros bens, mas eram incapazes de controlar e prever as conseqüências de suas intervenções”, diz Keith Shear, da Universidade de Birmingham. Mesmo que involuntariamente, o explorador francês Pierre de Brazza estimulou a convocação da Conferência de Berlim. Ele fez um acordo com Makoko, rei dos batekes, que viviam próximo ao rio Congo: ofereceu proteção em troca de exclusividade comercial. “A França então reivindicou soberania sobre a região em 1882. Mas isso entrou em conflito com os interesses de países como Portugal, Inglaterra e Bélgica”, diz o historiador Guy Vanthemsche, da Universidade Livre de Bruxelas. O impasse entre os colonizadores os levou à Conferência. Outro explorador, Henry Morton Stanley, trabalhou na mesma região que Brazza. Ajudou o rei belga Leopoldo II a fundar o Estado Livre do Congo e a explorar os trabalhadores locais, mas foi acusado de torturar e matar africanos a mando do monarca. Antes disso, o galês Stanley, trabalhando como jornalista, fora enviado à África por um diário americano para procurar o missionário escocês desaparecido David Livingstone. Após percorrer milhares de quilômetros, encontrou um homem branco e cunhou a célebre frase: “Doutor Livingstone, eu presumo”. Acertou. Sob o lema “Cristianismo, Comércio e Civilização”, Livingstone havia sido um dos primeiros europeus a cruzar a África, tornando-se uma lenda viva. Ao converter os africanos ao catolicismo ou ao protestantismo, entretanto, missionários como ele facilitavam a colonização. O combate às crenças e rituais tradicionais contribuiu para que o poder dos líderes tribais africanos, muito baseado na
religião, entrasse em declínio.

                                                                                                                 Aventuras na História- julho/06.
A partir do texto e de seus estudos, responda;

1-      Explique o que foi e qual a importância da conferência de Berlim.
2-      Explique o princípio da efetividade e seus efeitos na conquista da África.
3-      Apresente formas utilizadas pelos europeus para ocupação e colonização da África.
4-      Explique o lema “Cristianismo, comércio e civilização”,no contexto da colonização da África.
5-      Explique “ dividir para dominar”. Quais os efeitos desse método para os povos africanos?
6-      Cite a questão que envolveu os tutsis e hutus, em Ruanda.
7-      As fronteiras territoriais originais dos povos africanos foram respeitadas na sua divisão? Justifique.
8-      Após a segunda guerra mundial, o processo de independência na região garantiu a melhoria de sua situação? Justifique.
9-      De modo geral, quantos grupos étnicos havia na África à época da colonização no século XIX? Qual o processo que levou à  formação de elites locais entre eles?
10-  Escreva o legado da colonização aos países africanos.


sexta-feira, 15 de março de 2013

Papa Francisco


http://veja.abril.com.br/multimidia/galeria-fotos/papa-francisco-2013

O novo papa , Francisco, é um jesuíta.
Conheça sobre a Companhia de Jesus.
A ordem dos jesuítas nasceu da união de sonhos de seu fundador, Inácio de Loyola e dos esforços aplicados no momento em que a Igreja Católica mais precisava. A possibilidade de expansão do protestantismo acelerou o movimento de reação, exigindo atuação de Papas reformistas e do Concílio de Trento.
A Companhia de Jesus tem formado nestes mais de quatro séculos, homens que vêm marcando sua presença na história da Igreja e do mundo. Conta com um número considerável de santos e beatos - mais exatamente, 41 santos (entre eles 27 mártires) e 139 beatos (entre eles 131 mártires).
Seu fundador deu-lhe uma organização muito simples: é dirigida por um Padre Geral eleito por toda a vida, e dividida em províncias cada uma a cargo de um "provincial".
Cedo a Companhia de Jesus se ocupou da educação dos jovens. Já em 1548 se abria o primeiro colégio em Messina (Itália) destinado aos leigos.
Importantes ao longo de toda a história brasileira, e absolutamente fundamentais em seu princípio, os jesuítas desembarcaram na Bahia - trazidos pelo primeiro governador-geral Tomé de Souza - em 09 de março de 1549. Apenas nove anos, portanto, após a fundação da Companhia.
Muitos foram os homens dinâmicos, como Nóbrega, Anchieta, Luiz da Grã, Leonardo Nunes e Cristóvão Gouveia, a se sacrificar na realização de seu trabalho de fé. Estes e tantos outros, como, Antônio Vieira, uma dos maiores pregadores que a Companhia teve (um século mais tarde), identificaram-se completamente com os princípios da História do Brasil, sobretudo no capítulo da educação e catequese dos índios.
Quando em 1549 os jesuítas chegaram ao Brasil logo abriram escolas de ler e escrever e também de prática agrícola, marcenaria e ferraria. A educação, pois, no Brasil começou com os jesuítas. A formação comum dos professores religiosos, a mesma espiritualidade garantiam a unidade pedagógica, vazada em documento de 1599, a famosa "Ratio Studiorum" (ordenação dos estudos).
Esse sistema de educação formado por colégios, missões, catequese e que em muitos lugares era o único disponível, sofreu uma violenta interrupção em 1759, quando os jesuítas foram obrigados, pelo Marquês de Pombal, a deixar o Brasil.
Havia então 10 colégios, 10 seminários e outras residências. Os jesuítas estavam presentes até na Ilha de Marajó.
As conseqüências desta lacuna no sistema educacional podem ser sentidas até hoje, apesar do retorno gradativo dos jesuítas ao país, a partir do início do século passado.
Os jesuítas começaram a voltar ao Brasil em 1842: jesuítas alemães no Sul e italianos no Sudeste. Mais tarde, portugueses no Nordeste. Em 1867 é fundado em Itu, São Paulo, o colégio São Luís, hoje funcionando na capital do estado. O colégio Anchieta foi fundado em 1890 em Porto Alegre. Outros se sucedem nas principais capitais: Rio de Janeiro, Florianópolis, Salvador, Recife e mais recentemente Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza e Teresina. No colégio de Nova Friburgo, Rio de Janeiro, estudaram personalidades importantes da República. Os jesuítas assumiram uma escola técnica de eletrônica em Minas Gerais e desde 1940 atuam no campo do ensino superior com a PUC do Rio de Janeiro (1940). Nas décadas seguintes surgiram a UNICAP (Recife) e a UNISINOS (São Leopoldo, Rio grande do Sul). Em São Paulo, com mais de 50 anos funciona a Faculdade São Luís.
A este grupo de escolas de ensino superior somam-se as escolas e institutos de pesquisa mantidas pela Fundação Educacional Inaciana Pe. Sabóia de Medeiros (antiga Fundação de Ciências Aplicadas), fundados a partir de 1941 pelo Pe. Sabóia de Medeiros, hoje reunidos no Centro Universitário FEI com cursos de engenharia, administração e ciências da computação.
Hoje em dia, no mundo inteiro, cerca de dez mil jesuítas, com a colaboração de cem mil leigos, são responsáveis por estender a ação educacional da Companhia de Jesus a mais de duas mil Instituições de ensino, atendendo a cerca de um milhão e meio de jovens e adultos, em 56 países.
No momento, no Brasil, há 4 províncias, uma região missionária e um distrito missionário. Os jesuítas atendem a 100.000 alunos. Em seus colégios e universidades um grande número de professores leigos colaboram para que as metas fundamentais da educação jesuítica sejam alcançadas.

http://www.fei.org.br/CompanhiaDeJesus.aspx
Os Jesuítas no Brasil

Célia Cristina da Silva Tavares (FFP-UERJ)
Os primeiros seis jesuítas vieram para o Brasil com o primeiro Governador Geral, Tomé de Souza, em 1549, autorizados pelo rei para manterem, com exclusividade, atividades missionárias regulares na colônia. A congregação religiosa dos inacianos ainda estava em estruturação e somente em 1556 chegaram ao Brasil as recém-escritas Constituições da Ordem.
A Província do Brasil da Assistência de Portugal foi organizada desde o século XVI, enquanto que a Vice-Província do Maranhão só foi estruturada no século XVII.
Os nomes dos primeiros inacianos radicados no Brasil são muito conhecidos: Manuel da Nóbrega, João Azpilcueta, Leonardo Nunes, Antônio Pires, Diogo Jácome e Vicente Rodrigues. A este núcleo inicial somaram-se outros nomes ao longo do século XVI, dentre os quais o famoso José de Anchieta. O significativo crescimento dessa congregação religiosa no Brasil acompanhou a tendência geral de expansão da Companhia de Jesus. Em um período de 26 anos o número de inacianos aumentou muito, 61 em 1568 para 154, em 1594 [1].
Já a presença sistemática de representantes da Companhia de Jesus na região do Maranhão e do Grão-Pará foi relativamente tardia. No início do século XVII, mais precisamente em 1607, dois inacianos, Francisco Pinto e Luís Figueira, partiram de Pernambuco para a serra de Ibiapaba com o intuito de evangelizar tribos indígenas ali localizadas. O primeiro foi sacrificado pelos índios Tapuias; Luís Figueira conseguiu escapar e voltou a Pernambuco.
O segundo registro da presença de jesuítas nas terras do Maranhão se faz com a chegada da armada que expulsou os franceses de São Luís em 1615. Os padres Manuel Gomes e Diogo Nunes passaram dois anos e meio realizando trabalhos de evangelização na região, sem formar missão.
Somente em 1622, Luís Figueira e Benedito Amodei chegam a São Luís para fixar residência dos jesuítas, encontrando resistência dos colonos na sua permanência, que só foi assegurada pelo firme apoio recebido pelo capitão-mor Antônio Moniz Barreiros. Os colonos temiam que os jesuítas dificultassem a escravização dos indígenas e por isso foram tão hostis.
Nesse mesmo ano, o colégio e a igreja da Companhia de Jesus em São Luís foram erguidos sobre ermida construída por capuchinhos franceses no tempo da França Equinocial.
Em 1636, Luís Figueira, acompanhando o governador Francisco Coelho de Carvalho, chegou ao Grão-Pará, também enfrentando hostilidade dos colonos. Ele estabeleceu contatos com indígenas, nascendo então a intenção de formar missão na região. Voltou à Europa para obter permissão e apoio para seus planos. Pelo alvará de 25 de julho de 1638, o jesuíta obteve a permissão para a "administração dos índios" do Estado do Maranhão [2]; mas somente em 1643 conseguiu partir com mais 14 missionários. No entanto, sua viagem não chegou a bom termo, a embarcação naufragou na entrada da baía do Sol. Apenas três dos religiosos sobreviveram ao naufrágio e o projeto das missões jesuíticas no Estado do Maranhão e Grão-Pará foi adiado[3].
Somente em 1652 a missão no Maranhão foi retomada, quando o padre Antônio Vieira recebeu ordem da Companhia de Jesus para embarcar imediatamente com destino às missões do Maranhão [4]. Sua vinda para a América também significou uma revitalização do projeto das missões da Companhia na região norte, além dele ter sido o grande articulador da defesa da liberdade dos índios.
A Companhia de Jesus teve uma ação destacada tanto no Estado do Brasil quanto no do Maranhão e Grão-Pará. Foi responsável pela administração de colégios que constituíam-se a base da educação ao longo de quase todo o período colonial. Também articulou importantes iniciativas de missionação dos indígenas, promovendo um complexo e inevitável processo de contatos culturais que muitas vezes causou problemas, mas que ao fim proporcionou significativos elementos para a formação do que é hoje nossa cultura. Consolidou ainda inúmeras iniciativas de ordem econômica que serviram para fortalecer suas ações evangelizadoras, mas que também despertaram inimizades e disputas com outras ordens religiosas e autoridades governamentais. Possuíam fazendas onde criavam gado, plantavam cana-de-açúcar e outros produtos, constituindo-se na priemira metade do século XVIII uma congregação religiosa muito rica e poderosa. No norte, articularam a exploração comercial das drogas do sertão, entre outras iniciativas muito lucrativas.
Tamanho apego à manutenção do poder econômico proporcionou oposições violentas contra os jesuítas ao longo do século XVIII. Duas bulas papais de 1741, que proibiam aos missionários qualquer comércio e o exercício de autoridade secular, foram reafirmadas pelo marquês de Pombal na tentativa de minimizar o poderio dos inacianos.
É justamente no período pombalino que a perseguição aos jesuítas se precipitou. Os inacianos dificultaram a realização de uma série de providências em relação aos indígenas, especialmente no norte e o governo de Francisco José investiu no antagonismo com os padres da Companhia de Jesus. Primeiro foi a lei de 1757, que retirava dos missionários a administração temporal das aldeias, que deveriam ser uma organização puramente civil, doravante. Essa lei foi complementada pelo Alvará de 8 de maio de 1758, o Diretório dos Índios, que pode ser classificado como o responsável pela definitiva secularização das missões do norte.
No ano de 1757, dez jesuítas foram expulsos. Dentre eles destacam-se o padre João Daniel [5], que expusera ao governador uma reclamação sobre a lei das liberdades e foi acusado de insubordinação; e os padres André Meisterburg e Anselmo Eckart, acusados de terem armado os índios, como acontecera no sul nas missões guaranis. Esta acusação se reporta a um episódio que remontava a uma viagem do governador Mendonça Furtado, irmão de Pombal, para transformar a missão jesuítica de Trocano na Vila de Borba, a nova. Quando lá chegou, o governador foi recebido com uma salva de tiros de duas peças de canhão que existia na missão e que, segundo o padre Anselmo Eckart, servia para espantar os índios bugres que por vezes ameaçavam a aldeia. No entanto, Francisco Xavier de Mendonça Furtado reconheceu nesse episódio uma reprodução da formação do exército guarani. O pretexto é evidente, e foi largamente difundido, a ponto de criar uma imagem de que os jesuítas, ao norte, teriam tentado imitar seus irmãos do sul no momento delicado de se obedecer aos ditames do Tratado de Madri de 1750.
Importante notar que os acontecimentos que se desenvolviam na colônia repercutiam no reino, alimentando uma série de denúncias divulgadas por diversas obras. Aproveitando esse momento, Pombal recomendou que o embaixador português em Roma fizesse denúncia contra a Companhia de Jesus, acusando-a de praticar comércio no Grão-Pará e Maranhão. O Cardeal Saldanha da Gama foi indicado pelo papa para o cargo de Reformador e Visitador da congregação inaciana, para investigar essas acusações. Em 1758, o Cardeal confirmou as denúncias, retirou as faculdades de confessar dos inacianos e condenou o Geral da Companhia de Jesus, Lorenzo Ricci, por permitir a comercialização das drogas do sertão.
O golpe de misericórdia estava para ser desferido. Ele se desdobrou em duas medidas tomadas em 1759: a Carta Régia de 28 de junho, reformando os estudos de latim, grego e retórica, e proibindo os jesuítas de ensinarem essas disciplinas, atividade que sempre fora o ponto fundamental da ação pedagógica da Companhia; e a lei de 3 de setembro, na qual os jesuítas foram declarados proscritos, foram desnacionalizados e, finalmente, expulsos do reino de Portugal e suas possessões. Os inacianos foram presos e seus bens confiscados. Os exilados, na sua maioria, se dirigiram a Civita vecchia, nos Estados Pontifícios, mas muitos ficaram presos nos cárceres de Portugal.


[1] Serafim Leite, História da Companhia de Jesus no Brasil. Lisboa/Rio de Janeiro: Portugália/Civilização Brasileira, 1945, v. VII, p. 240.
[2] A patente de Roma que dava a Luís Figueira o encargo de fundar a missão no Maranhão tem data de 3 de junho de 1639. Ver Serafim Leite, Suma Histórica da Companhia de Jesus no Brasil (Assistência de Portugal): 1549-1760. Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar, 1965. p. 249.
[3] João Lúcio de Azevedo. Os jesuítas no Grão-Pará: suas missões e a colonização. Lisboa: Tavares Cardoso & Irmão, 1901. p. 40.
[4] Segundo Serafim Leite, op. cit., p.249Vieira foi o efetivo fundador da missão do Maranhão e Pará.
[5] Depois de expulso, enquanto esteve preso nos cárceres da fortaleza de S. Julião em Lisboa, o padre João Daniel escreveu um livro, Tesouro descoberto no rio máximo Amazonas, Rio de Janeiro: Imprensa Régia, 1830, onde descreveu a região amazônica do ponto de vista geográfico e considerou as potencialidades de recursos agrícolas baseado na sua experiência de dezoito anos como missionário.

http://bndigital.bn.br/redememoria/ciajesus.html

O Vaticano

O pequeno estado do Vaticano foi criado em 1929 quando o papa Pio XI e o ditador Benito Mussolini assinaram o Tratado de Latrão que previa o Vaticano como um estado independente e o recebimento de uma indenização pela perda do seu território durante a unificação alemã e em contra partida, a Igreja Católica teve que abrir mão das terras conquistadas na Idade Média e também teve que reconhecer
Roma como a capital da Itália. 

Em 1947, o Tratado de Latrão passou a fazer parte da Constituição e o Papa teve que jurar neutralidade sobre termos políticos. 


http://www.historiadomundo.com.br/curiosidades/o-vaticano.htm

segunda-feira, 11 de março de 2013

Corpos da Família Imperial são exumados em São Paulo.


Veja esta reportagem do jornal Folha de S. Paulo:

20/02/2013 

Corpos da família imperial são exumados

Corpos de três membros da família imperial brasileira --d. Pedro 1º, sua primeira mulher, d. Leopoldina, e a segunda, d. Amélia-- foram exumados e submetidos a análises físicas, químicas e a exames de imagem na Faculdade de Medicina da USP.

O trabalho, liderado pela historiadora Valdirene Ambiel, 41, fez parte de dissertação de mestrado defendida no Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. As informações foram publicadas no jornal "O Estado de S.Paulo".
Uma das motivações para o estudo foi a preocupação com a conservação dos corpos, sepultados no Monumento à Independência, em São Paulo.
"Há infiltrações, problemas de manutenção e o relevo não ajuda", diz Valdirene. A urna de d. Pedro estava se esfacelando, tanto que foi necessária a confecção de um novo caixão.
MUMIFICAÇÃO
Antes da abertura de cada urna, a pedido da família, um padre realizava uma cerimônia em latim, segundo a pesquisadora, bolsista da Capes.
A maior surpresa encontrada logo após a abertura foi no caixão de d. Amélia. Já se sabia que o cadáver estava preservado, mas não se imaginava quanto. "Cílios, unhas, cabelo, tudo inteiro", diz Valdirene.

Corpos da família imperial são exumados

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Hugo Mori/Divulgação
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Detalhe do rosto de dona Amélia; os corpos de três membros da família imperial brasileira --d. Pedro 1º, sua primeira mulher, d. Leopoldina, e a segunda, d. Amélia-- foram exumados e submetidos a análises físicas, químicas e a exames de imagem na Faculdade de Medicina da USP
O médico Edson Amaro Jr., professor associado de radiologia na Faculdade de Medicina da USP, destaca também o cérebro.
"O órgão conservou sua morfologia. É possível observar até os giros. Isso vai motivar pesquisas futuras."
Editoria de Arte/Folhapress
Depois da abertura e de análises preliminares, para verificar a presença de fungos, por exemplo, os corpos passaram por tomografia.
Mas, para isso, foram levados até o Hospital das Clínicas. A remoção foi cercada de cuidados. O interior dos caixões ganhou uma espuma para fixar os esqueletos no percurso entre o Monumento à Independência, na zona sul, e o HC, na região oeste.
O transporte foi realizado em etapas: d. Leopoldina em março, d. Pedro em abril e d. Amélia em agosto. Os corpos saíam da cripta mais ou menos às 21h e eram devolvidos entre 4h e 5h da manhã.
Para chegar ao prédio do HC onde foram feitas as tomografias, os restos mortais entraram no complexo pelo Serviço de Verificação de Óbitos e passaram por um túnel subterrâneo --tudo para garantir o sigilo da operação.
A ossada de d. Pedro foi a única a passar por decapagem --retirada de resíduos dos ossos-- antes dos testes e também a única a ser submetida à ressonância.
Entre os achados dos exames, destaca-se a aparente ausência de fratura no fêmur de d. Leopoldina.
Acreditava-se que a imperatriz teria sido empurrada de uma escada por d. Pedro, o que teria levado à sua morte. Os testes também permitiram identificar que a imperatriz foi sepultada com a roupa da coroação.
No imperador, não foram encontrados sinais de sífilis na ossada, o que não chega a descartar que ele tivesse a doença como se suspeitava, segundo o médico Paulo Saldiva, professor de patologia na USP.
"Seria possível confirmar por meio de biópsia do coração dele, que está preservado em Portugal."
Amaro Jr. lembra que o trabalho é só um primeiro passo para pesquisas futuras. Uma das possibilidades é fazer uma reconstrução 3D, como um "d. Pedro virtual". Até a voz poderia ser reconstituída a partir de medidas ósseas, diz Saldiva.


http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/1233506-corpos-da-familia-imperial-sao-exumados.shtml

O que publicou o jornal O Estado de São Paulo:
EDISON VEIGA E VITOR HUGO BRANDALISE - Agência Estado
Pela primeira vez em quase 180 anos foram exumados para estudos os restos mortais de Dom Pedro I, o primeiro imperador brasileiro, e de suas duas mulheres: as imperatrizes Dona Leopoldina e Dona Amélia. Os exames, realizados em sigilo entre fevereiro e setembro de 2012 pela historiadora e arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel, com o apoio da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, revelam fatos até então desconhecidos da família imperial brasileira e compõem um retrato jamais visto dos personagens históricos, cujos corpos estão na cripta do Parque da Independência, na zona sul da cidade, desde 1972.
A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo acompanha os estudos de Valdirene desde 2010, quando a historiadora e arqueóloga conseguiu autorização dos descendentes da família imperial para exumar os restos mortais. Na segunda-feira (18), ela apresentou sua dissertação de mestrado no Museu de Arqueologia e Etnologia da USP.
Agora se sabe que o imperador tinha quatro costelas fraturadas do lado esquerdo, o que praticamente inutilizou um de seus pulmões - fato que pode ter agravado a tuberculose que o matou, aos 36 anos, em 1834. Os ferimentos constatados foram resultado de dois acidentes a cavalo (queda e quebra de carruagem), em 1823 e 1829, ambos no Rio.
No caixão de Dom Pedro, nova surpresa: não havia nenhuma comenda ou insígnia brasileira entre as cinco medalhas encontradas. O primeiro imperador do Brasil foi enterrado como general português, vestido com botas de cavalaria, medalha que reproduzia a constituição de Portugal e galões com formato da coroa do país ibérico. A única referência ao período em que governou o Brasil está na tampa de chumbo de um de seus três caixões: a gravação Primeiro Imperador do Brasil, ao lado de Rei de Portugal e Algarves.
Ao longo de três madrugadas, os restos mortais da família imperial foram transportados da cripta imperial, no Parque da Independência, à Faculdade de Medicina da USP, na Avenida Doutor Arnaldo, onde passaram por sessões de até cinco horas de tomografias e ressonância magnética. Pela primeira vez, o maior complexo hospitalar do País foi usado para pesquisar personagens históricos - na prática, Dom Pedro I, Dona Leopoldina e Dona Amélia foram transformados em ilustres pacientes, com fichas cadastrais, equipe médica e direito a bateria de exames.
No caso da segunda mulher de Dom Pedro I, Dona Amélia de Leuchtenberg, a descoberta mais surpreendente veio antes ainda de que fosse levada ao hospital: ao abrir o caixão, a arqueóloga descobriu que a imperatriz está mumificada, fato que até hoje era desconhecido em sua biografia. O corpo da imperatriz, embora enegrecido, está preservado, inclusive cabelos, unhas e cílios. Entre as mãos de pele intacta, ela segura um crucifixo de madeira e metal.
O estudo também desmente a versão histórica - já próxima da categoria de "lenda" - de que a primeira mulher, Dona Leopoldina, teria caído ou sido derrubada por Dom Pedro de uma escada no palácio da Quinta da Boa Vista, então residência da família real. Segundo a versão, propalada por alguns historiadores, ela teria fraturado o fêmur. Nas análises no Instituto de Radiologia da USP, porém, não foi constatada nenhuma fratura nos ossos da imperatriz.
Futuro
"Unimos as ciências humanas, exatas e biomédicas com o objetivo de enriquecer a História do Brasil. A cripta imperial foi transformada em laboratório de especialidades, com profissionais usando os equipamentos mais modernos em prol da pesquisa histórica", disse a pesquisadora, que trabalhou três anos sob sigilo acadêmico. "O material coletado será útil para que as pesquisas continuem em diversas áreas ao longo dos próximos anos." As informações são do jornal O Estado de S.Paulo

http://www.estadao.com.br/noticias/geral,exumacao-de-dpedro-i-e-suas-mulheres-reconta-a-historia,998740,0.htm

Agora, saiba sobre patrimônio e conservação :  http://portal.iphan.gov.br